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Na atualidade, discussões acerca da preservação ambiental ganham espaço na mídia. Dias atrás, o espetáculo se deu pela notícia que nosso presidente Michel Temer iria extinguir uma reserva florestal em meio a Amazônia, abrindo-a a exploração de minérios de cobre. A RENCA (Reserva Nacional do Cobre e Associados), como é chamada, possui uma área de aproximadamente 46.000 km², quase que equivalente ao tamanho do território da Dinamarca.
Afirmando cada vez mais nossa posição como país subdesenvolvido, é óbvio que por trás desta mineração está alguma empresa multinacional de capital estrangeiro. Alguns jornais como a BBC, o G1, dentre outros, já denunciaram dias atrás a preferência por empresas canadenses, que obtiveram informações privilegiadas sobre o decreto do presidente.
Isto reafirma que a Amazônia, como afirma o professor Antonio Carlos Robert Moraes da USP, nada mais é que um fundo territorial do capitalismo, ou seja, uma reserva de capital a ser explorada em momentos de crise. Seu subsolo, suas reservas hídricas e sua biodiversidade servem como formas de acumulação de capital por espoliação (uma revisão do conceito de acumulação primitiva de Marx proposta por David Harvey), ou seja, a natureza, exterior ao homem, é mais uma vez transformada em mercadoria.
Parece que Bertha Becker tinha razão ao dizer que “a Amazônia só seria preservada se ela fosse mais lucrativa em pé do que derrubada”, pois o que vigora hoje no mundo é um ambientalismo de livre mercado, onde o poder de influir na decisão dos Estados tornou-se mais importante do que apropriação direta de territórios.
Esse decreto é o maior exemplo desta forma de ambientalismo, onde empresas estrangeiras já têm informações privilegiadas que antecedem as ações do Estado.
A desculpa da crise e do aumento das receitas é só uma estratégia para favorecer a criação de mais um enclave econômico no meio da Amazônia, assim como o Projeto Carajás-PA, a Serra do Navio-AP ou Oriximiná-PA.
A demanda do minério de cobre no mundo tem aumentado substancialmente, empurrado principalmente pelo crescimento industrial chinês. E é para isso que os enclaves servem, expropriar nossos recursos naturais e acabar com nossas florestas, financiando, como sempre, o crescimento econômico dos países mais poderosos.
Alan Peterson Lopes
Graduado em Geografia pela UNESP - Universidade Estadual Paulista
Mestre em Geografia pela UNESP - Universidade Estadual Paulista