top of page

A Amazônia e os 12 Anos Sem Dorothy Stang

Alan Peterson Lopes

Dorothy Mae Stang: nosso modelo de luta pela defesa das minorias e do meio ambiente na Amazônia

Dorothy Mae Stang, freira nascida em Dayton, estado de Ohio nos Estados Unidos veio ao Brasil em 1966 junto com a congregação católica Notre Dame de Namur. Sua missão era muito maior do que meramente relacionada à religião, com uma visão ambientalista, juntou-se aos movimentos sociais no estado do Pará com o objetivo de frear o desmatamento na Amazônia.

Sempre ao lado de camponeses, indígenas e agricultores familiares, ensinou gerações a ler e escrever e a pensar no futuro para garantir sua subsistência.

Logo ao chegar ao Brasil já notou que nosso grande problema é a questão fundiária, diante disso, se tornou integrante da Comissão Pastoral da Terra (CPT) liderando seu primeiro projeto preservacionista, o PDS Esperança, que dentre os principais objetivos lutava pela regularização de terras dos pequenos agricultores, combatendo todas as formas de grilagem, além das madeireiras e fazendeiros.

Dorothy viu com seus próprios olhos os imensos ataques às populações locais e ao bioma Amazônico. Aterrissou no Brasil bem na época da construção daquilo que Bertha Becker chama de “malha programada” constituída de instituições e planos governamentais implementados durante a década de setenta, e que dão suporte à política pautada na ideologia da segurança nacional e na idéia de um “Brasil Potência”.

Dentro desta ideologia, os grandes projetos de investimento ganharam força, tais como a construção da Transamazônica e o Grande Projeto Carajás, que trouxeram em conjunto a especulação de terras e o desmatamento estratosférico que afugentou as sociedades locais.

Porém com o fim da ditadura militar, ocorre o esgotamento do modelo deste planejamento que garantia o financiamento daqueles projetos de modernização do território. Diante deste cenário, atividades mais capitalizadas se instalaram na Amazônia, principalmente a agricultura moderna da soja que induziu ainda mais a expulsão dos trabalhadores do campo e a grilagem de terras.

Mesmo diante destas dificuldades, a freira tomava a linha de frente, como sempre dizia: "Se hoje algo sério tiver que acontecer, que aconteça comigo e não a outros que têm uma família”. Isso fez com que ela entrasse na lista negra dos latifundiários como uma pessoa a ser eliminada.

E foi exatamente isso que aconteceu. Em fevereiro de 2005, Dorothy flagrou dois homens jogando sementes de milho nas lavouras de agricultores familiares para prejudicar suas plantações. Simplesmente foi até os dois e criticou seus atos. Dias depois, na manhã de sábado do dia 12 de fevereiro de 2005, Dorothy Stang, então com 73 anos, caminhava em uma estrada de terra batida se deparou, segundo testemunha, com o pistoleiro Rayfran Sales que disparou seis tiros contra a freira.

Ali morria um dos ícones da luta pelos direitos da minoria e pela preservação da natureza. Um crime, onde o pistoleiro diz ter recebido míseros R$ 50,00 para praticá-lo.

Um dos mandantes, Regivaldo Pereira Galvão, o “Taradão” foi condenado a 30 anos de prisão cinco anos depois, porém sempre respondeu em liberdade, ficou preso, apenas, no início dos julgamentos por 1 ano e 4 meses. Hoje, mora em Altamira e aguarda em liberdade um recurso que tramita no Superior Tribunal de Justiça (STJ). O outro mandante Vitalmiro Bastos de Moura, o “Bida” foi condenado a 30 anos de prisão e cumpre pena em regime semiaberto. Além destes, outras duas pessoas foram condenadas pelo crime e também cumprem pena em regime semiaberto.

O caso de Dorothy ganhou repercussão mundial, porém inúmeras pessoas continuam sendo assassinadas naquela região e a impunidade ainda vigora.

Mas não devemos deixar de lutar, Dorothy Stang dedicou sua vida inteira à nossa Amazônia e se tornou nosso modelo de luta pela defesa das minorias e do meio ambiente.

Alan Peterson Lopes

Graduado em Geografia pela UNESP - Universidade Estadual Paulista

Mestre em Geografia pela UNESP - Universidade Estadual Paulista

22 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page