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Sabina Spielrein - Estudiosa e Psicanalista

Isabelle Artico

O que te passa pela cabeça quando você vê/escuta algo relacionado a psicologia, psicanálise ou terapias? Vou me usar como exemplo, eu, pessoa leiga, sempre imagino um Freud fumando um charuto com seu bigode desconcertante, mas talvez você vá além do Freud e se recorde de Carl Jung, Pavlov e etc, mas definitivamente nenhuma mulher. Aprendemos a acreditar que é perfeitamente normal não ter nenhuma contribuição de mulheres, ou que não existem grandes personagens femininas na história, vivemos essa rotina patriarcal desmotivante e até nos assustamos quando “encontramos” a história de alguma mulher assim. Eis o caso de Sabina Nikolajevna Spielrein, uma das primeiras psicanalistas do mundo.

Sabina Spielrein nasceu em 1885, de origem russa, filha de comerciantes judeus ,e de paciente com histeria passou a ser psicanalista. Por essa breve introdução, a história de Spielrein se parece com uma situação apenas de superação, porém é muito mais que isso, é sobre como mulheres podem ser completamente apagadas da história mesmo que o seu legado tenha sido passado a diante e usado até os dias atuais.

Sabina foi paciente de Carl Gustav Jung de 1904 a 1905, e foi a primeira paciente que Jung testou os métodos de Freud. Após sua estadia no hospital psiquiátrico, Sabina Spielrein começa a trabalhar nesse mesmo hospital e estudar, se forma em medicina em 1911 e escreve a primeira tese universitária sobre esquizofrenia e a primeira a usar o termo esquizofrenia. Nesse mesmo ano vira membro da Sociedade Psicanalítica de Viena.

Teve uma vasta produção intelectual, 30 artigos em alemão, e de paciente de Jung e Freud, passou a influencia los também, assim como influenciou diretamente Jean Piaget. Ainda hoje Spielrein é citada apenas como amante de Jung, uma tática cruel para justificar o apagamento da sua vida e obra e de tantas outras mulheres. Uma relação íntima que não a definiu como ser e que não contempla sua história.

Sabina morou em diversos países da Europa, porém em 1923 ela partiu de Berlim e retorna a Rússia, onde foi recebida pelo Partido Comunista e virou protegida de Trotsky.

Na Russia Spielrein abordou temas inovadores para a sua época, sendo pioneira em relação a psicanálise em crianças, também foi convidada a direção do primeiro Jardim de Infância psicanalítico em Moscou e fundadora da Sociedade Psicanalítica de Moscou.

Em 1926, com ascensão de Stalin, até a perseguição e a proibição oficial da psicanalise pelo mesmo em 1936, Sabina Spielrein ensinou psicanálise na Universidade de Rostov, tendo então depois que trabalhar como médica na Oficina de Defesa da Pátria e não podendo mais sair da URSS. Seus irmãos e membros da família, assim como seu marido, foram mortos em Gulags.

Não se sabe ao certo o final de Sabina Spielrein, mas provavelmente Sabina, com 56 anos, e suas duas filhas, Renata de 28 anos e Eva, 18, foram mortas pelas tropas nazistas que ocuparam a cidade de Rostov, onde mataram todos os judeus dentro de uma sinagoga.

Sabina só foi recordada praticamente 60 anos depois de sua morte, e mesmo assim ainda não lhe dão os devidos créditos por uma vida dedicada inteiramente aos estudos, seja pela psicanálise ou pela música que também era sua paixão.

É nosso dever recordar essas mulheres, não apenas pela curiosidade póstuma, não só apenas pela “vingança histórica”, essas mulheres existiram, lutaram e resistiram e merecem o reconhecimento.

Isabelle Artico

Graduanda em História pela UFG - Universidade Federal de Goiás

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