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Ainda com honrosas exceções, esse mundo da cultura pop/nerd é o cúmulo do machismo. E acho que é por isso que, mesmo me interessando muito sobre todos os assuntos, eu tento manter um certo afastamento para não me aborrecer, e acabo me fixando em um grupo de mulheres para trocar ideias sobre esses conteúdos.
A história da vez, é que um rapaz X postou uma foto, em um grupo que eu sigo, com uma garota que trabalha como repórter pra um portal que discorre sobre esses temas. E os caras, prontamente, comentaram:
"não sei porque idolatram essa menina, ela nem é tão bonita"; "que linda, ela aparenta ser muito simpática"; "ela é meiga e sorridente"; "ela tem a cabeça de um boneco da Funko"; "a mão do nerd punheteiro chega a tremer" (pasmem, até isso).
Até a altura da moça chegaram a questionar. E aí me bate uma tristeza, um desânimo. Porque para nós, mulheres, ainda não importa o tanto que fazemos para mudar as coisas, o quanto somos boas, inteligentes e competentes. Não importa o fato de nos levantarmos todos os dias para nos aperfeiçoarmos. Tanto faz o quanto quebramos nossas barreiras e nos superamos. No final, o senso comum vai nos lembrar por essas características, e são essas mesmas características que irão nos distinguir: beleza, doçura e simpatia. Bunda, peito e barriga. Se fugirmos desse padrão, facilmente somos ignoradas e anuladas em muitos espaços.
Se fosse para existir um questionamento, ninguém questionaria a competência da garota como profissional. Todos os adjetivos iriam sempre ser voltados à aparência e à comparação.
Não importa, porque foi nos ensinado que existe uma mulher ideal a ser atingida. E é nessa tarefa que nos deprimimos, porque é um trabalho impossível de ser realizado, já que somos falhas como qualquer outro ser humano. E, aliás, nem temos tempo pra isso. E aí quando se lê que a maioria das mulheres sofre com baixa autoestima, as pessoas estarão prontas pra argumentar que isso só ocorre porque "mulher é maluca e instável". "Ah, por causa dos hormônios. Ah, porque mulher é sentimental. Ah, porque mulher é emotiva. Ah, porque mulher se irrita fácil."
Mas ninguém nunca parou pra pensar que somos comparadas a nossa vida toda. Pouca gente parou para refletir que quando uma mulher fala, um homem faz cara de tédio. Que quando uma mulher expressa tanto seus sentimentos, como suas opiniões, um homem desdenha. Que quando uma mulher se impõe, ela é presunçosa. E que poucas mulheres acordam dessa ilusão nesse trajeto, enquanto outras, infelizmente, adoecem, perdem oportunidades, perdem a percepção de se olharem de forma mais humana, perdem a chance transformadora que é acreditar no poder que floresce dentro de si, perdem a oportunidade de viver para si mesma enquanto estão tentando provar alguma coisa para o resto do mundo que nos julgará nos nossos primeiros defeitos que ele perceber.
Mulheres não são animais adestrados.
Maísa Carvalho Graduanda em Direito pela UFPI - Universidade Federal do Piauí