No dia 30 de abril o ministro da educação anunciou contingenciamento de verba de três universidades federais que, segundo ele, "estavam promovendo balbúrdia em seus campi". Depois de uma série de crÃticas, o ministro recuou no critério (ideológico) e estendeu a medida à todas as federais. Diversas universidades se posicionaram contra a medida afirmando que ela compromete o funcionamento das instituições.
A posição original do ministro, associando os cortes ao que foi chamado de "balburdia", reverberou nas mÃdias sociais. Segundo a página "Monitor do debate polÃtico no meio digital", das 10 postagens mais compartilhadas por páginas de direita sobre o tema, quatro delas associam as universidades à bagunça e ao "esquerdismo". (veja aqui: https://www.facebook.com/monitordodebatepolitico/posts/2287208911340559?__tn__=-R)
Por conta dos protestos de ontem, as postagens que mais predominaram nas redes foram as "de esquerda" em defesa da educação. Já as páginas de direita se voltaram para outros temas, como o pacote anticrimes de Moro e as alterações na lei Maria da Penha. (aqui: https://www.facebook.com/monitordodebatepolitico/posts/2303986852996098?__tn__=-R)
Mas depois de ser surpreendida pela abrangência das manifestações em defesa da educação, a direita reagiu. Enquanto páginas "de esquerda" defenderam a educação pública e repercutiram as mobilizações de rua, páginas "de direita" acusaram os protestos de serem "partidários" (aqui: https://www.facebook.com/monitordodebatepolitico/posts/2304739676254149?__tn__=-R)
O que podemos perceber com essas movimentações ideo-polÃticas é que, enquanto setores ligados à esquerda defendem as universidades (e a educação) pública em geral, setores ligados à direita atacam-nas, usando argumentos estapafúrdios como: as universidades (e a educação) pública em geral são dominadas por militantes esquerdistas que só fazem balbúrdia.
A primeira impressão é que setores da direita não são contrários à s universidades e à educação em geral, mas apenas ao suposto "domÃnio esquerdista dentro delas". O problema é que, para a direita, tudo aquilo que não converge ou não coaduna com seus dogmas e práticas conservadoras passa a ser considerada como "coisa de esquerdista", devendo ser combatida e limada da sociedade.
Esse tipo de visão apenas reforça a ideia de que a direita é contra as universidades (e a educação) pública em geral, pois quem sabe separar o joio do trigo sabe que o compromisso das nossas universidades públicas não é com as ideologias de esquerda, mas com a produção e difusão de conhecimentos. O problema --- para a direita, é claro --- é que grande parte do conhecimento produzido pelas universidades colide, contradiz, refuta e desmistifica a maioria das ideias, dogmas e visão conservadora da realidade.
No fim das contas, o que acontece é que o conhecimento produzido dentro das universidades acaba virando, quase que acidentalmente, uma arma contra a direita em geral, e isso os incomoda muito, porque suas ideias acabam perdendo validade e legitimidade, daà os ataques e difamações constantes às universidades (e à educação) pública em geral.
Fora isso, não são as universidades que têm culpa se as teses conservadoras --- que servem de base à direita --- não seguem minimamente os parâmetros cientÃficos para serem consideradas válidas e plausÃveis de discussão, debate e difusão dentro (e fora) das universidades.
Ora, isso apenas mostra que as ideias e concepções que formam o arcabouço ideológico da direita tem pouca relevância cientÃfica e, não obstante, pouco respaldo na realidade. No fundo, não passam de narrativas de quinta categoria que alimentam teorias conspiratórias, tal como a de que as nossas universidades são dominadas por marxistas culturais.
Idiota útil é quem acredita e reproduz isso, pois, como disse o Anderson Vidal, "Não existe maior massa de manobra polÃtica do que aquele que propaga mentiras pra justificar os cortes" na educação.
Thiago Lisboa
Cientista Social especialista em História Social Mestre em Filosofia pela UFABC - Universidade Federal do ABC