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Cursar um curso de humanas durante a faculdade, normalmente nos embute de diversos estereótipos que muitas vezes são usados como piadas para nós mesmos. No entanto, alguns desses estereótipos - como todos os estereótipos inclusive - são nocivos e preconceituosos e muitas vezes não temos a dimensão de como são empregados fora dos nossos meios.
Digo isso, pois hoje, durante a comemoração do aniversário de uma amiga vivi uma das situações mais constrangedoras e embaraçosas. Mas não para mim.
Tenho escrito sobre a experiência de não depilar e como ela tem me provocado e provocado reações nas pessoas. E não fazer parte dos padrões de beleza é um dos estereótipos das mulheres que cursam humanas.
Dito isso, papo vai, papo vem no churrasco de aniversário, a aniversariante chega com um colega de trabalho e nos apresenta:
- Tá aí: você não queria conhecer minhas amigas peludas?
Notei o semblante das pessoas presentes (homens e mulheres) todos estarrecidos, com alguns segundos de perplexidade não consegui nem ouvir o que as companheiras presentes estavam dizendo. Todas feministas, imagino que deviam estar acabando com o cara. Falavam todas ao mesmo tempo e riam.
- Como assim peludas? Qual o problema?
- Eu não tenho nada a ver com isso - dizia o rapaz constrangido - era só uma piada.
Eu não pude perder a oportunidade: levantei a saia do vestido longo e mostrei suntuosos todos os pelos da minha perna e disse:
- Eu tô peluda mesmo ó, mas quando eu fazia história eu depilava. Ao que todos os presentes riram e o rapaz encabulado mal querendo olhar pra minha perna:
- Gente, tudo bem, não precisa disso, eu já disse que eu não tenho nada a ver com isso...
- É você não tem nada com isso mesmo.
- Quem é mais peludo, a gente ou a galinha nas suas costas?
- Mano, você tem uma tatuagem de galinha nas costas e quer falar do nosso pelo?! (uma amiga colocou o cabelo em baixo da axila ao dizer isso)
E ele ia se encolhendo de vergonha. Encostou a camiseta branca na graxa, não sabia mais como agir, o que fazer. E as mulheres caçoando dele e rindo. Ele:
- Eu sei... Gente não precisa de tudo isso...
- É só pra te deixar constrangido mesmo.
- Conseguiram. E saiu vermelho de vergonha.
Quando fui embora, minha amiga, dona da festa me agradeceu pelo "tapa de realidade" que dei no rapaz.
- Minha esperança era mesmo que alguma de vocês não tivesse depilada e mostrasse pra ele, me disse sorrindo.
Não sei se ele aprendeu alguma coisa com isso, mas espero que nunca mais ele diga uma palavra sobre pelos para as mulheres. Aliás, que não diga nada sobre o corpo de nenhuma mulher, já que nossos corpos não são públicos para ficarem sempre submetidos a julgamentos ou estereótipos
Luara Carvalho Graduada em História pela CUFSA - Fundação Santo André