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  • Renan Beltrame

São Bernardo. Estranha Beleza.

Atualizado: 26 de mai. de 2021


A coluna se destina a apresentar algumas considerações sobre os filmes aqui fomentados.

Longe de ter a pretensão de formular críticas, se destina a divulgar a produção de filmes que tecem com sutileza e astúcia, algum fio desse emaranhado que são as relações humanas.

A pretensão é a de lançar um convite a assistir os filmes comentados.

Filme: São Bernardo / Direção: Leon Hirszman /Ano de lançamento: 1971

Um filme magnífico. Magnífico como o texto de Graciliano Ramos. Entretanto, tão cuidadosamente realizado, que ganha relativa autonomia ao trabalho em que se baseia, tornando-se uma obra de vida própria, como a criança que carrega traços dos pais, mas transforma-se em um sujeito autônomo.

O peso da terra (de sua posse e exploração) e das relações em que o protagonista Paulo Honório está envolvido são estranhamente colocadas. A beleza com que as imagens são apresentadas se contrastam com a feiura da realidade em que o filme é baseado e quer demonstrar. As estruturas econômicas e sociais são projetadas em planos que se assemelham às grandes telas paisagísticas que confortam os olhos e atormentam o espírito. Paulo Honório, a personagem protagonista, nos é apresentado de forma desconcertantemente humana. Assustadoramente próximo a nós, inevitavelmente nos envolve em sua dureza. Paulo Honório é um sujeito duro - consigo e para com os outros. Deliberadamente o filme subtrai a história e o aprofundamento que o livro apresenta sobre algumas personagens que orbitam a vida do protagonista. Não há demérito nisso. Ao contrário, o roteiro e a direção enfatizam o desenvolvimento da personagem de Madalena, e de seu relacionamento com Paulo Honório. Seria um erro dizer que Madalena é a antítese de Paulo Honório, pois ele não é de maneira grosseira apresentado como o mal encarnado. A refinada atuação de Isabel Ribeiro e Othon Bastos enchem a tela de sutilezas, interpretando suas personagens a altura dos trabalhos de Graciliano Ramos e Leon Hirszman. Madalena e Paulo Honório são sujeitos diferentes que se desenvolveram sob condições análogas de vida. Não são exatamente as mesmas condições. Haveriam de ser na realidade? Uma das astucias do livro e do filme, é o fato de entenderem e apresentarem a constituição de sujeitos tão diversos num mesmo contexto social. Não é assim na vida real? Quantas individualidades se desenvolvem sob uma mesma condição social? Madalena é a flor que nasce em solo seco. Paulo Honório é o Sol que agride ao invés de acalentar. São Bernardo é a força que atrai e destrói os sujeitos que dela tentam se apoderar, tragando em suas terras, o fruto das potencialidades. O filme de Hirszman é a magnífica adaptação do grande livro de Graciliano. Roteiro, direção e atuações cuidadosamente apresentadas como o resultado de uma reflexão sobre o nascimento e a morte das potencialidades do ser humano num canto do Brasil. Renan Beltrame Graduado em História pelo CUFSA - Centro Universitário Fundação Santo André Mestre em Educação pela Universidade Metodista

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