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8 de Março: Dia de Luta das Mulheres e da Classe Trabalhadora

Alice Ramos

A origem operária do 8 de março

Ao contrário do que querem vender os meios de comunicação, o Dia da Mulher é uma das datas mais importantes para a história, principalmente quando falamos do centenário da Revolução Russa.

Neste mesmo dia, mas em 1911, operárias estadunidenses entravam em greve por condições mínimas de trabalho em uma fábrica têxtil. O dono da fábrica se recusou a ceder e assassinou todas as trabalhadoras incendiando a fábrica enquanto essas mulheres estavam lá.

Anos depois, também nesta mesma data (segundo o calendário gregoriano), o mundo presenciou as trabalhadoras russas a frente das manifestações por “pão, terra e paz”, estopim para a organização dos demais trabalhadores. As grandes revolucionárias desta época, como Alexandra Kollontai reivindicaram o dia 8 de março como a o dia da luta da mulher operária. Não é a toa que “quando uma mulher avança, nenhum homem retrocede”.

As lutas nos cem anos da Revolução Russa

A luta das mulheres neste 8 de março está consideravelmente mais espessa e encorpada. A indignação das mulheres e o salto na consciência exigiu espaço nos variados meios de comunicação, não apenas para os clichês das flores, mas para apresentar vários exemplos de resistência.

No ano de 2016, alguns casos tomaram grandes proporções, como na Polônia (país muito católico) em que a proposta de lei para restringir o direito do aborto por estupro (pasmem!) movimentou as mulheres para uma greve com adesão grandiosíssima. Na Argentina, um caso de uma mulher estuprada e empalada também colocou as mulheres nas ruas em luta contra essa expressão do machismo. Em meados de janeiro, em meio à posse de Donald Trump, milhares de mulheres se juntaram em uma marcha para denunciar a misoginia desse que assumiu simplesmente a presidência do maior país imperialista do mundo.

Em março deste ano, as mulheres se organizaram em uma greve internacional (el paro internacional das mujeres), cujo mote é “se não valorizam nossas vidas, que produzam sem nós”.

Apesar desses exemplos positivos e que reavivaram os movimentos feministas ainda mais, faz-se necessário dizer sobre a ilusão da emancipação da mulher dentro de um sistema que reproduz o capital (capitalismo e outras formas de sistema; assunto para outra hora). O assunto está em voga e as mídias, produtos etc. tiveram de se adaptar à cobrança de um público engajado pela pauta pós-moderna, que acredita transformar as questões inerentes ao capital por meio das pautas específicas (racial, feminista, LGBTT entre outras).

Ora, se pensarmos na estrutura de reprodução desta sociedade, saberemos não ser possível total evolução das pautas específicas, o que não significa que devemos abandoná-las.

Pensando que a família reproduz a hierarquia da qual todos nós estaremos submetidos, primeiro na escola e, depois, no trabalho, sabe-se então que a estrutura do “manda quem pode obedece quem tem juízo” é necessária para a permanência da reprodução do capital. Lembrando que ela pode se adaptar, inclusive, às relações homoafetivas.

Simplificando, enquanto houver uma estrutura social dividida em classes sociais (trabalhador versus empresariado) haverá opressão de classe, de gênero e étnico-racial.

Se formos à raiz da questão da opressão de gênero e não só na superfície como tratam os grupos de feminismo policlassista, perceberemos que a posição que a mulher exerce de cuidados da casa, dos filhos e filhas etc., é de extrema importância para o capital, pois é um trabalho não remunerado. Ou seja, apenas aquelas atividades que não pesam na reprodução material da vida social. Portanto, não mais há igualdade entre os gêneros e, no capitalismo não é possível haver, pois a função das mulheres, historicamente, foi alterada para que haja a manutenção da reprodução da estrutura do capital (macrocosmo) na família nuclear monogâmica (microcosmo). (MÉSZÁROS, Para além do capital, item 5.3)

A partir disso, podemos pensar que a ideologia caminha no sentido de legitimar tal estrutura que joga a mulher para escanteio em sua emancipação, pois ela, tendo de cuidar dos filhos e filhas, não vende seu tempo para um capitalista e o doa à pessoa que sustenta financeiramente a família. Mas, só se consegue isso colocando a mulher em uma posição passiva de “bela, recatada e do lar”. Sem isso a reprodução da base material do capital está comprometida. Portanto, emancipar a mulher significa, em última instância, acabar com o capital.

Juntando tudo isso, que é pouco, aliás, podemos pensar que dentro da esfera da exploração capitalista quem sempre é mais atingida em tempos de “crise” (aspas porque o capitalista continua enriquecendo e os trabalhadores empobrecendo) somos nós mulheres.

Pensando nisso, a luta do 8 de março, constante e diária é uma luta da nossa classe. É uma luta de homens e mulheres contra o capital que nos oprime e que rouba nossos dias de vida. Em uma sociedade em que as minorias de voz tiverem espaço pleno, e não o teatro de colocar um presidente negro que continua bombardeando países como Líbia, Afeganistão e Somália e que não resolve a questão racial, ou uma presidente que condena os movimentos sociais e que também não resolve as questões da mulher – ao contrário, apenas onerou o ministério que cuida deste assunto – , nada tem a ver com a nossa classe, nada tem a ver com a luta das mulheres, nada tem a ver com a emancipação real da mulher trabalhadora.

Referências bibliográficas:

BRASIL. Lei Antiterrorismo é sancionada com vetos pela presidente Dilma. Senado Federal. Disponível em: <http://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2016/03/18/lei-antiterrorismo-e-sancionada-com-vetos-pela-presidente-dilma>. Acesso em: 7 mar. 2017.

CHACRA, Guga. Os EUA, com Obama, realizaram 26.171 bombardeios em 2016. Disponível em: <http://internacional.estadao.com.br/blogs/gustavo-chacra/os-eua-com-obama-realizaram-26-171-bombardeios-em-2016/>. Acesso em: 7 mar. 2017.

OLIVEIRA, Dayane Silva. Trabalho, classe e mulher: a questão da emancipação. Disponível em: <http://www.uesb.br/eventos/sbga/anais/arquivo/arquivo%2016.pdf>. Acesso em: 7 mar. 2017.

MÉSZÁROS, István. Para Além do Capital - Rumo a Uma Teoria da Transição. Tradução de Paulo Cesar Castanheira e Sérgio Lessa.1. Ed. São Paulo: 2002.

Alice Ramos

Graduada em Letras pela CUFSA - Fundação Santo André Militante do Espaço Socialista

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