A Atuação do PDT e Ciro
- Max Marianek

- há 2 dias
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Nesta última eleição o PDT e Ciro Gomes tentaram romper com a hegemonia petista na esquerda brasileira e trazer novamente para o centro do debate político temas importantes que pareciam esquecidos, como a centralidade da indústria para o desenvolvimento, a independência nacional com relação aos centros decisórios do capitalismo internacional ou a relação do Brasil com o capital estrangeiro, a participação ativa do Estado como elemento propulsor da economia, a manutenção de direitos para os trabalhadores e a inclusão de parte das massas historicamente excluídas (tema que também está presente no discurso petista). Em síntese a retomada do nacionalismo econômico que foi esboçado inicialmente no período Vargas e que auxiliou a transformação do Brasil de país agrícola em industrializado (a forma que se deu essa industrialização pode ser largamente discutida, porém, não é o objetivo desse texto).
Nestas eleições tanto o PDT, quanto Ciro Gomes, tentaram realizar um processo autocrítico (e parece que foram os únicos até o momento) sobre os caminhos que a esquerda brasileira estava trilhando, ao trazer novamente para o debate os temas descritos acima e tomando como foco na campanha o tema do emprego e de um projeto de longo prazo de desenvolvimento nacional ao invés dos temas que dominaram a pauta da esquerda nos últimos tempos, temas ligados a penetração das ideias pós-modernas (Nos parece que o PSOL se encontra ainda preso a esse ideário pós-moderno e não consegue elaborar um projeto alternativo de desenvolvimento nacional e social totalizante, apesar da elaboração interessante de setores do partido e da contribuição a determinados temas como a reforma tributária). Este esforço do PDT de trazer novamente para o debate temas tão relevantes foi e continuará sendo um trabalho necessário. Como Ciro afirmou em sua última entrevista ao El País: A questão central do país não pode ser identitarista ou o salve Lula. Enquanto a agenda for esta, estamos fazendo exatamente o que o Bolsonaro quer que a gente faça.”
Diferente dos petistas que mantiveram e insistem em manter o “Lula Livre” como eixo de atuação (Fernando Haddad no segundo turno tentou amenizar a presença do “Lula Livre” percebendo acertadamente como tal bandeira “queimava” sua campanha ao invés de somar) os pedetistas tentam partir de outro eixo: um projeto nacionalista de desenvolvimento. A tentativa do PDT de formar um bloco no congresso com o PSB e o PCdoB de oposição à Bolsonaro sem a presença do PT e as continuadas declarações de Ciro de independência do PT, demonstra que o partido tenta assumir uma posição de protagonista na oposição ao novo governo e de liderança na esquerda. Porém, chegamos aqui ao que me parece ser um dos principais limites do projeto do PDT e de Ciro Gomes (existem outros como por exemplo a ausência do debate sobre o latifúndio, porém, neste texto exploro este limite que agora me parece bem explícito pela conjuntura).

Apesar de em seu discurso Ciro Gomes tocar em todos esses temas essenciais e ser claramente um quadro político com elevado nível de compreensão do atual cenário do capitalismo internacional e de como o Brasil está inserido nesse sistema , é necessário que tanto Ciro quanto o PDT percebam a necessidade, de além de atuar no Congresso, preparar um movimento de massas, orgânico, que transcenda as negociações de cúpula. Ciro mostra seu limite ao tentar construir apenas através de negociações de gabinete a proposta do nacionalismo econômico e a oposição ao governo Bolsonaro. Ciro não se preocupa em construir um movimento ligado às massas, ou um movimento com base orgânica dentro do próprio PDT, ele está convencido que é o bastante as negociações de bastidor, um erro que limitará absurdamente o alcance de suas propostas e que limita também uma profícua ligação com a massa trabalhadora que poderia enriquecer ainda mais o ideário deste projeto de desenvolvimento nacional.
Sintomático desse procedimento é o episódio que ocorreu agora envolvendo a Embraer. Bolsonaro deu carta branca a venda da empresa aos americanos, traindo os interesses nacionais, dando impulso à colonização do país e a reprimarização da nossa economia, ao dar de mãos beijada uma das poucas empresas do país que exporta produtos industriais e tecnológicos, demonstrando claramente ser um entreguista que trabalha para os interesses norte-americanos.
Porém, diante desse quadro qual foi a atitude do PDT? Ao invés de chamar manifestações públicas, tanto presenciais quanto virtuais, utilizando seus militantes para organizarem atos com outros partidos de esquerda pelo país para se opor a esta transação, tentando atingir a massa da população sobre a relevância do tema (inclusive tentando tocar setores do exército que são contra essa traição) o PDT entrou com uma simples ação judicial contestando a compra, o que vai levar a legitimação da mesma, isso sim, pois nenhum juiz irá se opor a venda da empresa sem um movimento de pressão da opinião pública, a ação na justiça deveria ser o último passo, depois de um amplo processo de mobilização social.
Somente um movimento nas ruas e público poderia pressionar o judiciário ou o governo a retroceder em tal atitude, entrar na justiça sem tal atividade nas ruas só enfatiza o que falamos acima, apesar de tentar realizar uma autocrítica interessante, rompendo com a hegemonia petista, trazendo os temas relacionados ao desenvolvimento econômico e social do país para o centro do palco, o PDT e Ciro Gomes mostram os seus limites, ao não tentarem transformar essa autocrítica em um movimento orgânico, que atinja a massa da população, o partido e Ciro continuam acreditando nos conchavos no congresso e nas ações judiciais e se esquecem de fazer política de fato.
Maxwell Marianek Graduado em História pela CUFSA - Fundação Santo André
Graduando em Biblioteconomia pela USP - Universidade de São Paulo



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