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  • Foto do escritorMax Marianek

Sobre a Entrevista de Guilherme Boulos ao Roda Viva

Atualizado: 26 de mai. de 2021


A entrevista de Guilherme Boulos ao Roda Viva foi bem interessante. Boulos se mostrou bem preparado para responder, foi bem didático e em vários momentos conseguiu tornar claras as próprias contradições dos entrevistadores, que por sinal pareciam bem despreparados, fazendo muitas perguntas baseadas no senso comum mais rasteiro. Mas apesar disso, Boulos manteve-se calmo e desconstruiu tais perguntas com facilidade.

Também tocou em pontos extremamente relevantes, como o problema da moradia, da desigualdade abismal do Brasil, da reforma tributária que é extremamente necessária, do sistema político brasileiro, e da revogação da reforma trabalhista e do congelamento dos gastos sociais.

Mas alguns pontos pareceram preocupantes. Primeiro, que igual em outras candidaturas do PSOL à presidência em anos anteriores, Boulos não mostrou que tem um projeto globalizante ou totalizante da economia brasileira, o que ele defende são medidas, que são extremamente necessárias, como a reforma tributária, mas que por si só não demonstram um projeto, um rumo de desenvolvimento e rompimento com a nossa estrutura colonial, são medidas necessárias, mas que devem ser parte de um projeto mais amplo. Ele comete o mesmo equivoco das candidaturas anteriores do PSOL, que apesar de propor medidas importantes e que enriquecem o debate, são limitadas a alguns pontos, que não se conectam a um todo.

Onde fica, por exemplo, o debate sobre a desindustrialização que o Brasil enfrenta desde o final dos anos 80? Sabemos que a industrialização por si não traz o desenvolvimento ou o rompimento com o nosso status colonial, mas sem ela qualquer projeto que tenha esse objetivo se torna inviável. E não é possível criar um "estado de bem estar social" sem o rompimento com esse status colonial e sem a indústria, a experiência petista mostra isso bem claro, com a queda dos preços das commodities (além de outros fatores) foi para o espaço o tímido projeto de inclusão realizado pelo PT. Portanto, a criação de um estado que inclua as massas trabalhadoras historicamente excluídas do Brasil, está coligado a formação de uma economia independente e fortemente industrial. Os dois aspectos são indissociáveis.

Vemos também como reflexo dessa desindustrialização a volta do agronegócio (latifúndio) como setor forte tanto no campo econômico quanto no político, não é a toa que vemos deputados (e a Globo com sua campanha o Agro é Pop) voltando a defender que o caminho do desenvolvimento para o Brasil é o campo, um debate que já havia sido superado nos anos 50 do século XX e que seria impensável a alguns anos atrás. Os produtos primários voltaram a ser o carro chefe das nossas exportações, processo que tinha se invertido nos anos 70. Como se mantem um país que importa toda a sua tecnologia e exporta soja?

Isso para comentar apenas um dos pontos que estão ausentes da fala de Boulos, podemos lembrar alguns mais, somente para ilustrar, como por exemplo: a balança de pagamentos, que ai inclui os produtos exportáveis pelo Brasil, a taxa de câmbio, investimento em pesquisa, o modelo de transporte do Brasil, entre outros. Todos esses são pontos essenciais também e que estão fora da fala de Boulos (para não ser leviano, após assistir a entrevista no Roda Viva, fui assistir outras entrevistas do Guilherme e a linha mestra foi a mesma).

Por fim um último aspecto que achei problemático de Boulos (e do PSOL) foi sua definição de socialismo, entendo a sua necessidade de amenizar o discurso para uma campanha, porém isso me recorda o mesmo equivoco do PT, de nunca deixar claro qual de fato era seu projeto socialista, o PT também sempre defendeu um socialismo vago, de fim das desigualdades, mas nunca nos disse como se daria esse fim. A desigualdade nasce socialmente pela diferença da inserção das pessoas na produção de acordo com a sua posição de classe, ela é um problema ligado a estrutura de propriedade. Não é um distributivismo restrito que irá romper com essa desigualdade, com a desigualdade da corrida de 100 metros em que uns largam 50 metros na frente.

Enfim essas eram algumas das observações sobre a entrevista do Boulos. Apesar dessas poucas linhas críticas, a candidatura de Boulos presta um serviço importante para esquerda , porém está na hora do PSOL, debater além das questões "pontuais" (extremamente necessárias) um projeto econômico sério e profundo, que tenha um sentido histórico, e que seja globalizante, para o país. Max Marianek

Graduado em História pela CUFSA - Fundação Santo André Graduando em Biblioteconomia pela USP - Universidade de São Paulo

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